Espiritismo e Política Podem Caminhar Juntos?
- Comportamento
- 20/09/2022
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“E quem governa seja como quem serve”. Jesus – Lucas, 22:26
RESPONDA SE FOR CAPAZ:
- Deve o espírita esforçar-se para cumprir os seus deveres de cidadão e exercer os seus direitos políticos?
- A Doutrina Espírita conscientiza a criatura humana, levando-a a tornar-se um “homem de bem” no sentido global?
- Haverá alguma relação entre Espiritismo e Política?
- Que têm feito as Instituições Espíritas para favorecer o processo de conscientização sócio política dos seus frequentadores?
- Qual o posicionamento do espírita frente a questões como violência, menores abandonados, educação, desemprego, racismo, discriminação social. O que podemos fazer em nosso âmbito para combater esses problemas?
VAMOS CONVERSAR
A transformação íntima só se torna efetiva e verdadeira quando ela é irradiada para a coletividade em que estamos inseridos. O Espiritismo nos fala da realidade do espírito e do seu processo evolutivo, ensinando-nos que a felicidade é uma construção individual e coletiva. Ninguém conseguirá ser feliz com o seu derredor emitindo gritos de carências e lágrimas de dores. Ninguém será feliz sozinho ou rodeado de poucos. Algumas pessoas, no meio espírita, reagem de maneira negativa e, às vezes, até assustadas quando se fala em política, demonstrando desinformação e preconceito. Existe até um tabu de que Política entra em confronto com o zelo doutrinário. Na realidade a Política é bem mais abrangente e está presente em tudo que o homem realiza. Todos nós somos políticos. Há mais de 2000 anos o filósofo grego Aristóteles escreveu que o homem é um “animal político” e não estava brincando.
REFLEXÕES SOBRE ESPIRITISMO E POLITICA
Haverá alguma relação entre Espiritismo e Política? Sobre o aspecto filosófico, o Espiritismo tem a ver e muito com a Política, já que esta deve ser a arte de administrar a sociedade de forma justa. Consequentemente, o espírita não pode declinar da sua cidadania e deve vivenciá-la de forma consciente e responsável. O Brasil sempre foi alvo de muitas esperanças. Falava-se em país do futuro, em berço da nova civilização e nos meios espíritas, em Coração do Mundo e Pátria do Evangelho. O grande problema é que os brasileiros nunca demonstraram grande empenho para alcançar concretamente esses títulos. Boa parte dos trabalhos de ciência política no Brasil traz uma característica marcante: a constatação de que a sociedade brasileira é dependente do Estado e que não tem apego a valores como democracia, liberdade e igualdade. Não tem tradição de participação, de reivindicar seus direitos. A sociedade é uma das maiores responsáveis pelos males que a atingem. Somos um País que não se conscientizou de que depende da sociedade colaborar na resolução de muitos problemas dos quais o Estado não consegue dar conta. O Brasil só vai poder dizer-se Pátria do Evangelho quando der os primeiros passos na construção de uma sociedade realmente democrática, justa e fraterna. Quando, enfim, os brasileiros olharem para a sociedade e perceberem que fazem parte dela. Se uma pessoa está sofrendo, em um determinado local, todos sofrem, pois os problemas dela acabam nos atingindo de uma maneira ou de outra, seja por meio da violência ou dos mecanismos econômicos mais complexos.
E VAMOS MAIS ADIANTE
E o que tem a ver o Espiritismo com isso? O espírita tem em suas mãos instrumentos poderosos de participação (e de transformação) da sociedade: as federativas, os centros espíritas, as instituições específicas, os órgãos de comunicação. Podem, no mínimo, auxiliar na mudança de mentalidade de seus adeptos. Sabemos que Kardec recomendou aos centros que deixassem de lado as questões políticas. Mas essa afirmação significa que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e militâncias partidárias, pois o lugar para o seu exercício é no seio das agremiações e locais respectivos. Assim, jamais o Espiritismo, como Doutrina, e o Movimento Espírita, como prática, poderão dar guarida a um partido político em seu seio, por exemplo: Partido Social Espírita, Partido Espírita Cristão, etc. As questões políticas decorrem dos próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais, prática da caridade etc. , fala-se sobre política. Principalmente, quando se fala em transformação da sociedade, como aparece a todo o momento na Codificação (particularmente no capítulo final da Gênese), estamos falando de política.
MAIS UM PASSO
Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? – Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos). De se entender, então, que não pode o espírita alienar-se no seio da sociedade em que vive, com a desculpa de que Espiritismo e Política não têm nada que ver, pois é preciso lembrar que a vida material e a vida espiritual são dimensões contínuas da própria Vida. O homem tem que progredir, e isolado ele não tem condições disso, já que seu progresso depende dos bens que lhes são oferecidos pela família, pela escola, pela religião e demais agências sociais. Para o espírita, essa ação política deve ser sempre inspirada nos princípios expressos pelo aspecto filosófico do Espiritismo, que o levam a amar e, nesse caso, amar é desejar o bem; logo, a exteriorização política do Amor é a expressão do querer bem e do agir para o bem de todos. A ação política dos bons é um imperativo na hora atual. O Espiritismo apresenta conceitos claros e precisos para essa atuação. A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará com ela no mesmo terreno. Aos homens progressistas se deparará nas ideias espíritas poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nos novos homens, espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo. (A Gênese).
CONTINUANDO NOSSO BATE PAPO
O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pelas generalidades das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina a secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados (A Gênese).
O Espiritismo trabalha com a educação. Esta é a base da própria Doutrina, pois, para praticá-la, temos de nos educar. E a educação tem um conteúdo extremamente político, pois muda nossa forma de ver o mundo e de agir nele. Assim, é cada vez mais importante que os centros espíritas percebam a importância de discutir os assuntos da realidade concreta. Não estaremos fazendo política no aspecto partidário, mas sim auxiliando na conscientização dos espíritas sobre como entender a sociedade e agir nela de uma forma crítica e consciente. Com uma visão crítica baseada nos princípios espíritas.
Qual o posicionamento do espírita frente a questões como violência, menores abandonados, educação, desemprego, racismo, discriminação social? O que podemos fazer em nosso âmbito para combater esses problemas? Não adianta querer ser espírita no plano espiritual.
Podemos e devemos estudar a moral espírita em sua teoria, mas não há como fugir: a sua aplicação prática será, quer queiramos ou não, na realidade concreta, enfrentando esses problemas do cotidiano. A polêmica ideia de que o Brasil está destinado a cumprir o papel de Coração do Mundo e Pátria do Evangelho sempre foi acompanhada de reflexões muito entusiastas. Se ele realmente tem uma missão histórica a realizar, então é preciso começar a pensar o Brasil de um ponto de vista mais realista. Só assim poderemos cumpri-la. O Evangelho apresenta a mais elevada fórmula de vida político-administrativa aos povos da terra. Os ideais democráticos do mundo não derivam senão do próprio ensinamento de Jesus, nesse particular, acima da compreensão vulgar das criaturas. A magna questão é encontrar o elemento humano disposto à execução do sublime princípio. Quase todos os homens se atiram à conquista dos postos de autoridade e evidência, mas geralmente se encontram excessivamente interessados com as suas próprias vantagens no imediatismo do mundo.
A força das coisas possibilita a mudança, mas não construirá uma sociedade mais justa, mais livre, mais feliz, sem que cada família, cada grupo, cada cidade, cada nação elabore seu projeto, organize sua ação para chegar a essa sociedade melhor. Livro dos Espíritos – Questões 860 e 1019
BÔNUS EXTRAS PARA SUAS REFLEXÕES
“Para os espíritas, finalmente, o Cristianismo não é apático. Se, na realidade, o cristão ficasse apenas na fé, rezando e contemplando o mundo à grande distância, sem participar do trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a palavra do Cristo teria a influência ponderável. O verdadeiro cristão, o que tem o Evangelho dentro de si, e não apenas o que repete versículos e sentenças, não pode cruzar os braços dentro de um mundo arruinado e poluído pelos vícios, pela imoralidade e pelo egoísmo. Alterar essa estrutura social que fomenta o egoísmo em todos os grupos sociais é providência urgente.”
— Deolindo Amorim. Trecho do livro O Espiritismo e os Problemas Humanos.
“O Espiritismo se liga a todos os campos das atividades humanas, não para entranhar-se neles, mas para iluminá-los com as luzes do Espírito. Servir o mundo através de Deus é a sua função e não servir a Deus através do mundo. Por tudo isso, devemos entender que são fundamentais o Espiritismo e a Política para a construção de Uma Nova Sociedade.”
—Herculano Pires. Trecho do livro O Centro Espirita.
“O chamado de uma nova ordem social está clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de atendê-lo, porque é um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis transitórias dos homens, é a expressão da própria vontade de Deus.”
— Herculano Pires. Trecho do livro O Reino.
“Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos firmaremos.”
—Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
SUGESTÕES
- O espírita pode e deve estudar e refletir sobre os princípios político-filosófico-espíritas no Centro Espírita, pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Das Leis Morais.
- Confrontar os fundamentos morais e objetivos do Espiritismo com os fundamentos morais e objetivos dos partidos políticos, verificando de forma coerente qual ou quais deve apoiar e até mesmo participar como membro atuante, se tiver vocação para tal, sabendo, no entanto, da responsabilidade que assume nesse campo, já que sua militância deve sempre estar voltada para o interesse do ser humano, em seus aspectos social e espiritual. Para isso, sua ação política deverá estar em harmonia com os valores éticos (morais) do Espiritismo que, em última análise, são fundamentalmente os mesmos do Cristianismo;
- Participar de organizações e movimentos que propugnem pela Justiça, pelo Amor, pelo progresso intelectual, moral e físico das pessoas. Exemplos: clubes de serviços, sindicatos, associações de classes, diretórios acadêmicos, movimentos de respeito e defesa dos direitos humanos, etc.;
- Fazer do voto um elevado testemunho de amor ao próximo, considerando que a sociedade humana é dirigida por políticos que saem das agremiações partidárias e suas influências podem ajudar ou atrasar a evolução intelecto-moral da humanidade, o voto, realmente, é uma forma de exprimir o amor ao próximo e à coletividade; Deve, pois, analisar se a conduta do candidato político-partidário tem maior ou menor relação com os princípios morais e políticos (aspecto filosófico) do Espiritismo;
- Participar conscientemente da ação política na sociedade, sem relegar o estudo e a reflexão do Espiritismo a plano secundário. Pelo contrário, o estudo e a reflexão dos temas espíritas deverão levá-lo a permanente participação, objetivando a aplicação concreta do Amor e da Justiça ao ser humano, seja individual ou coletivamente.
AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:
- Espiritismo e Política: contribuições para a Evolução do Ser e da Sociedade. Aylton Paiva. Editora FEB.
- O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade. Aylton Paiva.
- Espiritismo e Formação Política. Paulo R. Santos. Editora EME
- Heróis da Paz: O que Ganhadores do Prêmio Nobel da Paz Têm a Nos Dizer. Irwin Abrams. Editora Gutenberg
- Espiritismo: Política e Cidadania. Leda Marques Bighetti. Editora Batuira.
- O Partido. Robson Pinheiro. Editora Casa dos Espíritos.
- A Quadrilha. Robson Pinheiro. Editora Casa dos Espíritos.
- Movimento Universitário Espirita. Artigo. Editora Alameda
- Eu Queria Ser Bezerra de Menezes. Mauro Camargo. Editora Lachàtre
- Esculpindo O Próprio Destino. André Luiz Ruiz. Editora IDE
- Políticos No Além. Luiz Antônio Milecco. Editora Lachàtre
- Rumos para Uma Nova Sociedade – O Espiritismo e as Ciências Sociais. Autores Diversos – São Paulo. Edições USE.
- Estudos de Filosofia Social Espírita. Ney Lobo – FEB
- O Livro dos Espíritos.Allan Kardec.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.
- A Gênese. Allan Kardec.
- Obras Póstumas. Allan Kardec.
- O Reino. J. H. Pires/Irmão Saulo. São Paulo. Editora Edicel.
- O Espiritismo e Os Problemas Humanos. D. Amorim & H. C.Miranda. São Paulo: Editora USE.
- Os Grandes Líderes. Martin Luther King – Nova Cultural.
- Como Não Ser Enganado nas Eleições. Gilberto Dimenstein – Editora Ática.
- Elementos da Engenharia Social. Décio Silva Barros. Editora do Escritor – SP.
- A Inteligência Espiritual – Espiritualidade nas Organizações. Vitório César Mura de Arruda. Editora Ibrasa
- A Longa Capa Negra. Rubens Saraceni. Editora Madras
- JK – Caminhos do Brasil. Woyne Figner Sacchetin. Editora Lachàtre
- Getúlio Vargas em dois mundos. Wanda A. Canutti. Editora EME.
- Legião. Robson Pinheiro. Editora Casa dos Espíritos
- Senhores da Escuridão. Robson Pinheiro. Editora Casa dos Espíritos
- A Marca da Besta. Robson Pinheiro. Editora Casa dos Espíritos
PENSE NISSO
“Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Não posso ficar no meio de todas essas maldades sem tomar uma atitude.”
— Martin Luther King. Trecho do livro Os Grandes Líderes
Observação do editor: Publicado como conteúdo para reflexão. O texto não necessariamente reflete a posição da nossa instituição.