Nem paraíso, nem inferno

– Orson Peter Carrara

Esses lugares não existem. Será até ingenuidade pensar que exista um local de ociosidade completa para eterno descanso, como também infantil a ideia de um lugar destinado para castigar alunos repetentes ou rebeldias de seres imaturos.

Não! Isso é incoerente com a grandeza de Deus! Como poderia a Inteligência Suprema do Universo querer castigar ou vingar-se dos próprios filhos ainda inexperientes, ou em outra versão, entregá-los para suplícios infindáveis nas mãos de um concorrente sarcástico e cruel? Não tem qualquer cabimento a difusão dessas noções e mesmo sua aceitação.

A ideia de um local de eterna contemplação é incompatível com o dinamismo da própria vida. Da mesma forma destinar criaturas que erraram, seja por ignorância ou por pequenez moral, para sofrimentos eternos, infindáveis, é algo que a própria razão recusa. Não tem qualquer lógica.

Para uma época infantil da humanidade, tais ideias foram usadas para chantagear, dominar e tirar proveito de indivíduos acostumados a serem dirigidos, que não costumam raciocinar. Todavia, nos dias atuais, quando muitos já aprenderam a questionar, tais teorias perdem totalmente sua validade, caindo no ridículo.

Não existe inferno ou criaturas diabólicas destinadas ao mal eterno. Existem situações temporárias, criadas pela mente enfermiça, rebelde, revoltada, que se escraviza a si mesmo em pensamentos de ódio que cria locais – também temporários – onde exercem algum domínio durante algum tempo sobre outros que se deixam dominar.

E aqueles que encontraram harmonia, que estão bem consigo mesmos, que vivem o Reino de Deus dentro de si, não se acomodam na ociosidade. Trabalham em favor daqueles que ainda se debatem nos degraus da evolução ou no sofrimento que construíram, em todas as latitudes.

Na verdade, céu e inferno são estados conscienciais. Quem está com remorso, com arrependimento vive um inferno interior, podendo prender-se a esse estado por tempo indeterminado. Quem está com a consciência tranquila, em paz, está no céu de si mesmo.

Será de muita importância que se busque o livro O Céu e o Inferno, que neste 2025 completa 160 anos de publicação, para melhor entendimento essas questões. A obra, inclusive, contempla comunicações de espíritos nas mais diversas condições de bem estar ou sofrimento, revelando o local e as circunstâncias em que se encontravam. Referida obra é um tesouro estudando a questão, inclusive apresentando precioso documento que tem o expressivo título Código Penal da Vida Futura, com mais de três dezenas de itens bem compactos, situando a instigante questão e seus desdobramentos. Se você ainda não conhece a obra completa, comece pesquisando por esse citado documento.

Amália Domingo Soler, lúcida escritora espanhola que deixou valioso legado doutrinário em suas obras, escreve no capítulo XX – O que devem fazer os espiritistas, de seu livro A Luz do Caminho, que cabe aos espíritas difundirem essa ideia de que não existe aquele paraíso de ociosidade, nem tampouco existe um inferno de punições. A difusão desse conhecimento prepara as almas para a importância do esforço pessoal que aprimora o sentimento e a inteligência, fazendo o espírito alcançar estágios de grande felicidade e harmonia interior.

É preciso aprofundar o sentido de progresso da alma humana, através dos diferentes estágios de aprendizado que a reencarnação proporciona, sem prender-se a medos ou condicionamentos, sem escravizar-se a vícios que aprisionam.

O conhecimento de nossa verdadeira natureza imortal altera todos esses parâmetros equivocados que a ignorância humana foi capaz de construir, gerando medos e usando de chantagens que restringem as oportunidades de evolução.

Estudemos, pois, o Espiritismo, essa riqueza cultural doutrinária à nossa disposição. No caso do livro O Céu e o Inferno, encontraremos a Justiça Divina – onde não há parcialidade, privilégio ou preferência – segundo o Espiritismo. A ocasião comemorativa de mais um aniversário de publicação abre novamente o incentivo ao estudo do livro.