Ruminações Filosóficas
- Colunas
- 16/10/2020
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Por Jane Maiolo
“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não desprezes o ensino de tua mãe. Porque eles serão uma grinalda de graça para a tua cabeça, e colares para o teu pescoço. Filho meu, se os maus te quiserem seduzir, não consintas.” (1)
O codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, no livro Obras Póstumas, afirmaria com a total consciência de um educador “Será pela Educação, mais ainda do que pela instrução, que se transformará a Humanidade.” (2)
Educar é enriquecer a alma com virtudes e saberes. Instruir é sistematizar conceitos que enriquecem o quociente de inteligência.
Quando falamos em Educação estamos nos referindo ao “aperfeiçoamento moral” e não ao quociente de inteligência.
O conceito de inteligência, ou QI, foi se ampliando ao longo do desenvolvimento da capacidade de abstração e percepção do homem acerca de si mesmo, do outro e do mundo. Hoje é possível diagnosticar uma pessoa inteligente pela capacidade múltipla que ela apresenta para resolver sua vida prática e racional. Porém, ao final do século 20, surgiria um novo conceito de inteligência: o Quociente Emocional, ou QE, desenvolvido pelo escritor e Professor Daniel Goleman, que afirmaria que não basta o indivíduo ter uma boa média de QI se ele não souber desenvolver o quociente emocional, pois acredita-se que as emoções regem nossas escolhas e direcionam o rumo da nossa vida, produzindo satisfações, alegrias e motivações ou desgostos, tristeza e desânimo. O quociente emocional seria nossa capacidade de reconhecer e avaliar nossos próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles.
No início do Século 21 surgiria a teoria do quociente espiritual, ou QS, defendida pela física, psicóloga e professora da Harvard Danah Zohar, nos Estados Unidos. A renomada educadora acredita que as pessoas com esse consciente têm a capacidade de analisar a situação em que estão inseridas e fazer escolhas se desejam ou não continuar no cenário em que se encontram. Essas pessoas, com QS, utilizariam, de forma mais consciente, os seus potenciais e se conectariam com forças superiores que lhe inspirariam os melhores caminhos. Segundo essa linha de pensamento, Danah Zahar e alguns cientistas descobriram que temos um “ponto de Deus” no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais.
Vivendo num período de transição social e moral, assistimos ao nascer de uma nova geração, mais audaciosa, dinâmica, inquieta e carente de limites.
Qual tem sido a Educação oferecida a essa nova geração?
Percebe-se um afrouxamento nas relações familiares, ou seja, constituídas de pai e mãe ou outra figura responsável, donde consequentemente temos uma geração sem limites e sem valores éticos e morais consistentes. Desenvolver-lhes as múltiplas inteligências é dever dos Pais.
Pai e mãe, na concepção de Allan Kardec, são missionários da família, vide a questão 208 de O Livro dos Espíritos, quando o educador lionês interroga os espíritos sobre a influência e responsabilidade dos pais:
Questão 208. Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste?
Ao contrário: bem grande influência exercem. Conforme já dissemos, os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho.
Pais e mães têm funções e deveres específicos no desenvolvimento das virtudes e no aperfeiçoamento moral dos espíritos reencarnantes.
Diria Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, “Não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los. Haja vista tantos filhos abandonados, emocionalmente e espiritualmente.
Caminhamos a passos largos para uma sociedade cada vez mais egoísta, exclusivista e iludida. Somos seduzidos pelo ter e consentimo-nos a ilusão das efemeridades.
A atualidade dos Provérbios é assustadora:
“Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? E até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e odiarão os insensatos o conhecimento?” (4)
Educar para a Imortalidade é oferecer condições de redenção à nova geração que chega, sequiosa de rumo consciente.
Continuemos atentos ao pensamento de Allan Kardec:
“Porém uma mudança tão radical como a que se elabora não pode realizar-se sem comoção; há a luta inevitável entre as ideias. De tal conflito nascerão, forçosamente, perturbações temporárias, até que o terreno haja sido desobstruído e o equilíbrio restabelecido.” (5)
Eduquemos para a vida lúcida em tempos de confusão e caos!
Jane Maiolo
Referências Bibliográficas:
(1) Provérbios 1,8.9.10;
(2) KARDEC, ALLAN. Obras Póstumas. Tradução Salvador Gentile, Araras. SP. 29ª edição. Credo Espírita. Preâmbulo;
(3) KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007- questão 208;
(4) Provérbios 1,22;
(5) KARDEC, ALLAN. A Gênese. 19ª Edição. SP. LAKE- CAP. XVIII. Item 7.