Uma legião!
- Colunas
- 08/12/2018
- 12 min
- 1.889
Por Jane Maiolo
Então Jesus lhe perguntou: “Qual é o seu nome? ” “Meu nome é Legião”, respondeu ele, “porque somos muitos.” [1]
Variadas são as questões que envolvem o ser humano na busca do conhecimento de sua identidade real .
Quem somos? É uma incógnita que há séculos o homem tenta desvendar ou pelo menos saciar o desejo de se auto descobrir.
A Doutrina Espírita nos aponta caminhos, ensinando que somos espíritos e que já experimentamos muitos capítulos no limite do mundo físico, sob o guante da matéria grosseira e fora dele , nas infinitas paragens do plano espiritual.
O Espiritismo nos revela que somos compostos de três características dimensionais, a saber: o espírito, isto é, princípio inteligente que preside o pensamento , a inteligência e o senso moral; o perispírito, que se consubstancia no vínculo que conecta o princípio inteligente à estrutura física, invólucro de natureza fluídica , leve, imponderável e, por fim, o corpo carnal, ou invólucro fisiológico para as inter-relações com o universo tangível da vida material.
É bem verdade que somos uma individualidade , por conseguinte indivisíveis, contudo, que envergamos distintas personalidades, estagiando com diferentes nomes , sobrenomes, alcunhas etc. pelos quais diversos personagens nos reconhecem e nos identificam em cada etapa existencial.
Obviamente nossas personalidades sofreram e sofrem influências de natureza endógena (interna) e exógenas (externa). As influências endógenas (interna) são aquelas advindas da nossa realidade espiritual, ou seja, um patrimônio que nos escolta por eras incontáveis e se encontra armazenada na memória emocional, na herança genética, e nas múltiplas aprendizagens enquanto individualidade.
As influências exógenas (externa) são as que nos chegam no dia a dia pelas experiências pessoais, bem como pelas influências de potências mentais provenientes doutras pessoas encarnadas ou não.
Dotados de um amplo acervo mento espiritual permanecemos entre o enlevo do consciente e do inconsciente, manifestando-se em idas e vindas nas estruturas infinitas do nosso eu indivisível. Algumas vezes, visitamos determinadas regiões do inconsciente e daí entronizamos manifestos escombros tangendo para emoções sobrecarregadas, ambíguas, tensas.
Por vezes paralisamos os sentidos , permanecemos inermes e estertoramos na agonia íntima. Doutras vezes nos encontramos tão interligados com o eu real que olvidamos que somos seres imortais e que urge prosseguir na evolução para a aquisição dos valores transcendentes.
O aforismo grego “Conhece a ti mesmo“pode nos trazer grandes revelações e muitas surpresas, porquanto somos entes incompletos, ansiosos, múltiplos em desejos, emoções e sensações. Dessa forma, sem sombra de dúvidas existe uma legião inclusa em cada um de nós, todavia, o que almejarmos e vencermos em nós mesmos nas próximas experiências reencarnatórias definirá o lapso de tempo para nossa união definitiva com o Cristo.
Como observamos a receita para o autoconhecimento é antiga e Agostinho, ex-bispo de Hipona, nos oferece a fórmula para aquisição desse tesouro, vejamos: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.” [2]
Nessa indispensável busca para compreendermos quem somos é forçoso observarmos os convites do Evangelho , dispondo-nos a realizar novas descobertas a fim de ascendermos na hierarquia espiritual o EU aguardado pelo Divino Senhor.
Assim nada se faz de novo mas tudo se revela para aquele que deseja encontrar –se com o verdadeiro .
Perguntará o Senhor: Qual o seu nome? Que dirá?
Meditemos ainda hoje quem somos e o que podemos realizar em favor de nós mesmos.
Nota da autora:
O termo “legião”, ao tempo do Cristo, era uma referência aos soldados romanos que permaneciam em território palestino e assim subjugavam toda a nação judaica. Nas interpretações subsequentes ganhou o sentido de “muitos”.
Referências Bibliográficas :
[1] Marcos 5:9
[2] Kardec, Allan. O livro dos espíritos, questão 919-a (mensagem de Santo Agostinho), RJ: Ed FEB, 2009