Qual é a Melhor Religião?
- Colunas
- 12/08/2020
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Sidney Fernandes
Crisóstomo morreu! Levou um susto, pois achava que a vida terminava no túmulo.
— Ai de mim — pensava. Nunca fui religioso e agora estou aqui, sem ter professado qualquer fé ou ter sido útil a quem quer que seja.
Assim raciocinava porque, logo ao tomar consciência de seu, digamos assim, passamento, passou a colocar suas barbas de molho diante de dantescos espetáculos que passou a presenciar, vendo criaturas muito mais bem postadas do que ele, sob todos os aspectos — social, financeiro, religioso, artístico, esportivo, intelectual e outros mais —, passando um aperto danado, assim que transpuseram o portal da morte.
Continuando a observar, notou que raros chegavam em boas condições de adaptabilidade na vida espiritual. Havia os que chegavam e nada sabiam, mas, por orgulho ou prepotência, continuavam a sem querer saber. Cristalizados em suas falsas realidades, pareciam pobres imigrantes. Esses eram colocados de lado, pela obstinação em renovar ideias e concepções.
— Chegou a hora — pensou Crisóstomo. Nunca tive religião, jamais me consagrei ao culto do Senhor e em nenhum tempo pensei na sublimidade do paraíso, o que será de mim?
Naquele momento, ele foi abordado por um indivíduo que, logo ele deduziu, era alguma autoridade daquele local, pois distinguia-se de todos os demais pela estranha luminosidade que se desprendia de seu rosto e de suas vestes.
— Seja bem-vindo, Crisóstomo. Acompanhamos todo o trabalho que realizou na Terra e aqui você poderá dar continuidade à sua missão.
— Acho que o senhor deve estar enganado, pois nunca tive religião, jamais enalteci o nome do Senhor e pouco me preocupei em fazer a caridade recomendada pelas igrejas.
— Nós o conhecemos muito bem — adiantou-se o assistente, que se identificou como seu protetor espiritual. Minha missão foi acompanhá-lo durante todo o seu tempo de vida no planeta Terra.
— Então deve saber que nunca entrei numa igreja…
— Sua atuação na Terra foi das mais meritórias e honrou inteiramente as regras do Senhor, Crisóstomo.
— Mas, eu só cuidava das minhas plantinhas…
— E como cuidava bem delas! — disse o protetor espiritual.
— Sua modéstia não deixa transparecer todo o trabalho de proteção à natureza, as campanhas que realizou, as viagens que empreendeu, com seus próprios recursos, tudo em favor da natureza, dos animais, das árvores e da educação dos terráqueos para a preservação da sua sublime morada, respeitando a obra da criação.
Naquele instante Crisóstomo começou a entender que, mesmo sem saber, cuidando e preservando, estava realizando o honorável trabalho de proteção do orbe terreno, com persistência e determinação muito semelhantes às dos mais honrosos religiosos da Terra. Seu caminhar foi manso, pacífico e de autêntico representante da divindade na Terra.
***
Crisóstomo não teve religião na Terra e não se preocupou em professar qualquer fé doutrinária. Contudo, dedicou-se, durante toda a sua vida à proteção dos animais, dos vegetais e em educar as pessoas para que valorizassem e honrassem a morada que o Senhor nos concedeu.
Protegendo o nosso orbe, o humilde cuidador de plantas agiu exatamente como todos nós, homens, deveríamos agir, em busca da concretização dos ideais mais altos dos mandatários do planeta Terra.
Referências: As Mil Faces da Realidade Espiritual, Hermínio C. Miranda; A Escolha do Senhor, página de Contos e Apólogos, Humberto de Campos.